Grupo RBJ de Comunicação
Grupo RBJ de Comunicação,
08 de maio de 2024
Rádios

Cresol 20 anos: origem e raízes de um movimento

AgriculturaGeral

por redação

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O Sistema Cresol nasceu em 1995, depois de, aproximadamente, 15 anos de gestação. Sua raiz e origem tem a ver com o que aconteceu desde o início dos anos de 1980, há 35 anos atrás. A década de 1980 foi marcada por acontecimentos ainda vivos na memória de muitos. Acontecimentos que impactaram a vida de muitas famílias do campo e de toda a sociedade brasileira.

Os efeitos nefastos dos 20 anos de Regime Autoritário no Brasil manifestam-se no cenário de pobreza e desesperança no campo brasileiro. Muitos perderam suas terras, animais e máquinas em execuções judiciais de um sistema de crédito especulativo e a serviço do avanço capitalista no campo. O modelo desenvolvimentista, denominado de “Revolução Verde”, avançava destruindo os recursos naturais, conhecimentos tradicionais e criando dependência ao pacote tecnológico da indústria de agroquímicos, sementes e máquinas. Os bancos, em especial o Banco do Brasil, passavam a selecionar quem devia ficar ou ser jogado à própria sorte.

Pessoalmente, enfrentei essa realidade na minha juventude. O meu pai, na maior das boas intenções, assim que completei 18 anos, me levou ao Banco do Brasil para abrir uma conta corrente e fazer financiamentos. O maior dilema, pra mim, era ir ao banco. Primeiro, porque ele não tinha quase nada a me oferecer. Segundo: eu me sentia muito mal dentro do banco, as horas e horas na fila de espera nunca saíram da lembrança. O tratamento que a gente recebia, como pequeno e com pouca movimentação, era constrangedor.

Na metade da década de oitenta, a Associação de Estudos, Orientação e Assistência Rural (Assesoar), que já atuava na Região desde 1966, os movimentos sindical e popular dos trabalhadores rurais, do qual eu fazia parte, cresceram e passaram a pressionar o governo para mudar aquela realidade cada vez mais preocupante. Foram semanas de acampamento em frente aos bancos e bloqueando rodovias para chamar a atenção das autoridades. Nada mudou. Os governos seguiam submissos à lógica capitalista que avançava sobre o campo sem reconhecer a importância estratégica dos pequenos agricultores na  produção de alimentos.

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A nova estratégia foi a resistência. As organizações de pequenos agricultores intensificaram um trabalho de desenvolvimento de tecnologias alternativas como forma de resistência ao modelo da Revolução Verde. Ao mesmo tempo crescia o movimento de luta pela reforma agrária e a conquista de importantes assentamento. Neste contexto, surge a necessidade de crédito para implementar os novos conhecimentos relacionados a recuperação de solos; para aquisição de equipamentos, pequenas máquinas e animais; para a construção de pequenas  agroindústrias, entre outras. O sistema de crédito oficial não estava disponível para esse tipo de iniciativas porque fugia do controle e interesses das industrias de máquinas e agroquímicos.

Para responder a essa necessidade, com o apoio da Obra Episcopal da Igreja Católica da Alemanha para a Cooperação ao Desenvolvimento (MISEREOR), a Assesoar cria o Fundo de Crédito Rotativo que, mais tarde, se estende para a Região Centro Oeste do Estado, por iniciativa da Fundação Rureco. Uma proposta revolucionária em matéria de crédito rural para pequenos agricultores organizados em grupos informais e associações. O fundo era administrado pela Assesoar e conduzido política e socialmente por um órgão colegiado formado por organizações, movimentos e pastorais. Todos os financiamentos eram realizados em grupos, com cédula solidária e a moeda era equivalente a sacas de milho. Sem hipoteca e sem correção monetária. Centenas de grupos e associações, em várias regiões do Estado, acessaram o Fundo de Crédito Rotativo.

Assis Miguel do Couto é agricultor familiar e deputado federal. Esta é a primeira parte de uma sequência de artigos sobre o funcioamento do Sistema Cresol.

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