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28 de abril de 2024
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Economia brasileira só deve se recuperar em 2016

EconomiaGeralPolítica

por redação

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[Grupo RBJ de Comunicação] Economia brasileira só deve se recuperar em 2016 — "Governo precisa traçar metas para pagamento de dívidas e crescimento econômico", defende Pozes - Foto:Cesumar
"Governo precisa traçar metas para pagamento de dívidas e crescimento econômico", defende Pozes - Foto:Cesumar

Diante das inúmeras decisões tomadas pelo Governo Federal na tentativa de estabilizar a economia e ajustar suas finanças, a expectativa do mercado e de economistas é de que 2015 será “um ano para esquecer”. De acordo com o pós-doutor em Administração e Economia, docente do Câmpus Palmas do Instituto Federal do Paraná, Edmundo Pozes, o Brasil passa por um ciclo de restrições e desabastecimento que deve se encerrar somente a partir do 2º semestre de 2016.

Criticou as últimas medidas adotadas em relação à setores essenciais, como a educação, por exemplo, que sofreu um corte de R$ 7 bilhões em seu orçamento, além da restrição ao crédito e elevação dos juros. Na sua avaliação, Pozes defende que a presidente Dilma trace um plano para se resolver, primeiramente a crise política que o Governo enfrenta, principalmente com relação ao PMDB e aos escândalos de corrupção envolvendo estatais brasileiras. Sobre esse ponto, ressaltou que a corrupção no Governo Federal não “começou ontem”, pois “já viu coisas de arrepiar na época do Fernando Henrique Cardoso” quando atuava como gerente nacional do Sebrae na década de 90.

Com relação aos números da economia brasileira e o atual cenário, que análise pode ser feita? 

Eu sei que muitas pessoas da imprensa gostam de falar sobre catástrofe, Teoria do Caos, essas coisas todas, e realmente o mundo econômico é cíclico. Dentro da Economia estuda-se que, mais ou menos, são 13 anos cada ciclo de desabastecimento, de restrições, de crescimento, e nós estamos passando um pedaço do ciclo agora. Nós tivemos uma euforia de 2001 até 2008, que foi um “boom” na economia, e graças aos norte-americanos, aqueles bancos falidos que eles roubaram do mundo inteiro acabaram causando um grande problema e todo mundo encolheu, inclusive a China.

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O Brasil optou por não preservar o mercado norte americano e ficou mais no mercado sul-americano e no chinês, mas quem está crescendo agora é mercado norte-americano e nós não temos espaço pra vender nossas mercadorias. O nosso grande potencial são as commodities, os grãos, o minério de ferro, o petróleo, e não tem comprador pra isso em fase de crescimento. Então, a economia do Brasil está estagnada, o Governo Federal gastou muito dinheiro em programas de ajuda à população.

Esses programas implantados foram muito importantes, mas também tem que dar condições de trabalho para essas pessoas. Então, nós estamos passando por uma fase negativa na economia brasileira, de restrições, temos que compreender que a situação não vai melhorar esse ano. Muitas pessoas estão endividadas, porque houve uma oferta muito grande de crédito e o Governo incentivou para que a gente comprasse e investisse, e agora o crédito tá sendo diminuído, os juros foram elevados. Nós temos a taxa SELIC que está em 13,25% e a tendência é que se eleve mais ainda, então os juros estão muitos altos e as pessoas, endividadas, estão deixando de comprar.

Na sua visão, o Governo Federal está no caminho certo, elevando juros, cortando gastos em áreas essenciais, como a educação e outros campos?

Eu tenho uma outra visão sobre economia nesse ponto, porque o caminho que o Brasil está tomando é totalmente o contrário do qual toma o Japão, os EUA, a Europa. A abertura de crédito, o financiamento para as pessoas nesses países centrais, ricos, têm juros quase zero, para que as pessoas tomem o crédito e invistam. Já o Brasil faz o contrário, ele aumenta a taxa de juros, justamente para captar recursos do exterior para cá, para que invistam no Brasil e a gente possa mexer nesse dinheiro vazio, porque esse dinheiro não é nosso, é um dinheiro falso, pra pagar as contas do próprio governo que tenta investir, mas as contas são muito grandes.

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A gente vê essa corrupção, que não é de agora, não fique pensando que é só do PT. Eu não faço parte do Partido dos Trabalhadores, mas também não o culpo por isso, é uma coisa endêmica, de muito tempo. Eu já trabalhei no Governo, nos anos 1990, fui gerente nacional de educação e cultura empreendedora do Sebrae e já vi coisas de arrepiar, época do Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Então, essa filosofia do Governo ter que pagar os deputados e senadores para que eles possam aprovar os projetos é vexatória. O Governo está em conflito com deputados e senadores, com o PMDB, a situação da presidente é ruim nessa fase da sua administração, mas dá pra dar uma levantada, uma melhorada.

Na minha opinião, restrição de crédito não é bom. Eu acho que a gente tem que abrir pra incentivar as pessoas a empreenderem, a construir, ampliar empresas, porque só assim vamos ter uma economia de verdade. Você pode analisar que os países europeus, o Japão, os EUA, estão saindo da crise fazendo o contrário do que o Brasil está fazendo.

O senador Roberto Requião (PMDB), é um dos que questionam as últimas decisões tomadas pelo Governo Federal, desde a escolha de Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda, até as últimas medidas econômicas que entraram em vigor. Segundo o ex-governador do Paraná, “o Brasil está entrando na mesma porta do neoliberalismo que derrubou a Grécia”. Na sua opinião, é esse o rumo que o nosso país está tomando?

Justamente, a Grécia se afundou em dívidas, o Governo, assim como o Brasil está fazendo, está pagando tudo. Então, a conta é muito grande. Tem muita gente pobre, que deve ser ajudada realmente, mas nós temos que incentivar os empresários para que eles possam empreender, ampliar empresas, trazer empresas pequenas e médias para que possam gerar emprego. Assim como a Grécia fez, com o seu Governo se transformando em um grande patrão, um grande pai de todo mundo, o Brasil também está fazendo. E esse neoliberalismo significa isso, o Governo fica fazendo esse trabalho, que deveria ser dos empresários, apadrinhando as pessoas, ajudando, mas a conta não pode ser paga pelo Governo.

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Nós estamos vendo, o Brasil não tem recursos. O Governo Federal cortou o FIES, cortou vários planos na educação, justamente agora que o Governo havia lançado os slogans “Educação Forte”, “Pátria Educadora”, com os royalties do pré-sal colaborando para isso, volta atrás e tira dinheiro de onde deveria haver maior investimento. O Governo precisa investir na educação. As pessoas não podem ficar em casa, esperando receber um benefício todo mês. Não, as pessoas têm que trabalhar. Então, essa filosofia governamental de ser o “pai de todos”, funciona em um curto espaço de tempo. A Grécia já viu, está sofrendo sanções, elegeram um governo de alta esquerda para lutar contra isso, para defender o povo, mas eles não vão conseguir, a dívida é muito grande. Eles têm que pagar, senão, o mundo financeiro internacional tem os captadores de dinheiro, que vão emprestar e vão querer lucro. Esses bancos não são bonzinhos, eles jogam dinheiro no mercado, incentivam ao gasto e o mundo está nas mãos deles. O mundo está na mão do mercado financeiro. O caminho, mais uma vez, está errado ao defender esses bancos, essas estruturas multinacionais, que só vão em busca de recursos financeiros ao invés de fazer um trabalho que realmente desse um bem estar à população e pudesse se desenvolver.

Na sua visão, quais decisões deveriam ser tomadas pelo Brasil para reverter esse quadro num menor espaço de tempo?

Em primeiro lugar, foi aprovado há pouco tempo o Orçamento 2015, tem que aprovar antes. O grande problema é que o partido que está no Governo reuniu alguns partidos e o PMDB é um partido muito grande, que comanda a Câmara do Deputados, o Senado e tem alguns ministérios, então o PMDB está muito forte e também quer ser Governo.

E porquê os partidos querem o Governo? Por várias razões, não compete a eu falar todas, mas a gente fica até desconfiado sobre essa força que eles estão tendo. Então, é preciso ter uma paz no Governo, entre os partidos, para que possam se sentar a uma mesa e negociar. A gente vê ofensas de um deputado para outro, senadores contra os deputados, contra o Governo. Então é preciso que haja alguém para fazer esse meio de campo entre o governo e sua base.

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O segundo seria um grande plano para pagar as dívidas. A dívida interna do Brasil tá cada vez pior, cada vez maior, já passou de R$ 1 trilhão. É muito grande pra ser paga.

Terceiro, elaborar um plano de crescimento, haja vista que o mercado internacional está em baixa também. A imprensa fala muito “poxa, o nosso PIB é pequenininho”, mas o PIB da Europa é pequenininho também, dos EUA, do Japão, tá todo mundo com PIB reduzido, há não ser a China, que está com um PIB de 7%, tá chorando porque o PIB de lá é 7%, oxalá se fosse o nosso. O mundo está em recessão, não é só o Brasil, não adianta só acusar o Governo, tem que pensar na visão macro, nós estamos saindo dessa recessão, que não é tão assustadora. Tem que começar a plantar agora, voltar a investir na educação. Por exemplo, 0,4% do INSS acaba na mão do Sebrae, daí tem o Senac, o Senai, Senat e o Senar. Então, a gente tem que pegar esses órgãos que são paragovernamentais e fazê-los incentivar a sociedade nos pequenos e médios empresários para que eles possam crescer.

Só haverá crescimento se houver emprego e, o mais importante, só haverá emprego se houver empreendedores e pessoas que estudam. Se as pessoas não estudarem e não empreenderem o país não vai sair do lugar em que ele está.

Então, esse é o grande problema: acertar a casa política, acertar as dívidas que são grandes, esperar, em certa parte, o crescimento mundial que vai ocorrer, isso sempre acontece: recessão, crescimento, prosperidade, isso é normal. Trabalhar nesse sentido agora da recessão, para quando houver o crescimento nós estejamos preparados para crescer mais, expandir, produzir mais. Precisamos investir mais nas pessoas também. Quando escrevo meus artigos eu sempre bato muito nisso, a educação, e a gente vê na sala de aula como as pessoas mudaram, como os alunos estão muito melhores do que há 10, 20, 30 anos, eu leciono há 33 anos e eu percebi que os alunos são outros, com uma consciência social, econômica muito melhor, eles pesquisam na Internet, veem coisas que você nem imaginava que os alunos fariam isso um dia. Então o nosso potencial humano é grande e tem que ser trabalhado nesse ponto.

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